Há pouco mais de 12h eu tomei uma
atitude drástica, extrema. Mandei meu filho de 15 anos escolher entre a vida,
com limites, regras, cuidados e inclusive ajuda ou simplesmente a porta de
saída de casa. Ele escolheu a porta.
Algumas horas antes.
Meu filho estourou a porta do
quarto da minha mãe... ele ficou indignado, pois ela não emprestou o telefone
celular para fazer uma ligação. Ele avisou que faria, simplesmente para mostrar
sua fúria.
Para você que pergunta neste
momento: mas você não deu educação para este menino?
Eu respondo: sim, eu dei
educação. Meu filho sempre recebeu amor. Meu filho sempre teve limites bem
estabelecidos, não fui uma mãe permissiva. Quem sabe até muito exigente, afinal
de contas sou mãe e pai de garoto que não tem culpa do pai dele ser um homem
ausente e indiferente com o próprio filho.
Enfim, quando cheguei em casa, na
tarde de ontem, ele já havia saído. Retornaria em breve, mas em tempo de eu
encontrar um baseado sobre sua cama. Este não foi o primeiro flagrante que dei,
mas avisei que seria o último, quando conversamos anteriormente.
Adolescentes são irreverentes.
Adolescentes acham que devem provar tudo e de tudo. Adolescentes não têm medo.
Adolescentes experimentam a vida e a morte todos os dias. Eu fui uma
adolescente rebelde. Eu dei trabalho para meus pais. Eu dei trabalho na escola,
mas meu filho conseguiu superar todas as expectativas.
O princípio.
Desde muito pequeno ele sempre
desafiou os limites. Desafiou a altura quando corria sobre o muro de casa com
2,5 metros de altura. Ele tinha apenas seis anos de idade. Ele andava sobre os
telhados do quarteirão. Foram seis meses de terapia para “entregar a altura” e
“colocá-la no lixo” com uma psicóloga.
Meu filho tem o chamado
Transtorno Desafiador Opositivo (TDO). Ele desafia toda e qualquer autoridade.
É um transtorno de comportamento. Mais novo ele desenvolveu Transtorno
Compulsivo Obsessivo (TOC). Ele demorava horas para arrumar suas coisas. Tudo
deveria estar alinhado. As cores deveriam obedecer a uma seqüência lógica, por
isso quando ele “desorganizou” agradeci a Deus. A bagunça pode ser arrumada. O
TOC é avassalador na vida do portador e dos que estão próximos.
Portanto, desde cedo foi
acompanhado por diversos profissionais. Meu retorno à Curitiba foi muito mais
por ele que por mim. Precisava cuidar da sua saúde mental. Assumir esta
condição para as pessoas não é fácil. É complicado. Elas acham de tudo. Que não
sou boa mãe, que não soube dar amor ao meu filho, que faltou envolvimento da
minha parte... e assim vai.
Na escola, a vida dele tornou-se
um inferno, apenas com uma exceção. Ele não consegue ficar parado por muito
tempo, sua execução motora e concentração são sofríveis, mas se você o colocar
numa prova oral, tudo muda. Dos sete para os oito anos uma professora notou sua
“especialidade” e o acompanhou durante todo o ano letivo. Até sua letra mudou.
Achei, realmente que Curitiba poderia oferecer uma estrutura mais adequada a
ele, mas as escolas não estão adaptadas para crianças e adolescentes com especialidades
psiquiátricas. A especialidade escolar pára nas deficiências mais conhecidas,
como down, surdez, mudez e assim por diante. Passei por oito escolas em menos
de seis anos. O discurso das escolas é lindo: sim, nós sabemos atender crianças
especiais. Na prática: venha buscar seu filho. Nós não damos conta dele.
Fomos convidados a nos retirar de
algumas, apesar dessa história ser considerada ilegal. Fui constrangida pelas
melhores escolas curitibanas. Durante este período meu filho foi acompanhado
por neurologistas, psiquiatras, psicólogos, pedagogos, terapeutas.
Além de tudo isso, ainda havia a
igreja. Sempre fizemos parte de uma comunidade protestante que, aparentemente
oportunizava a ele uma vida em um grupo saudável. Mas daí, o comportamento dele
ficou mais acirrado, ele ficou mais rebelde e a igreja também não soube lidar
com suas diferenças. Olho para meu filho e lembro de alguns vários amigos que,
na adolescência, eram chamados de filhos do diabo devido o comportamento “diferente”.
Sei de alguns que não suportaram a pressão dos mais velhos e simplesmente
abandonaram a fé. Outros permaneceram. Passados alguns anos, ambos os grupos
são formados por homens decentes, corretos, inteligentíssimos e com futuros
brilhantes.
Hoje.
Voltando a minha história, eu
ofereci ajuda ao meu filho, de todas as maneiras. Eu ofereci, pois nesta idade
já não conseguimos mais impor ajuda. Eu propus mudarmos de igreja, para uma
comunidade que desse mais oportunidades a ele. Eu propus responsabilidades, direitos,
deveres, mas as sugestões não foram aceitas.
A situação é complicada. Não quer
mais estudar. Então, vamos trabalhar. Não quer trabalhar. Então... é preciso
entender como a vida funciona, realmente.
Seu pai, que me perdoe a
sinceridade, mas a desculpa de uma vida atribulada, a desculpa de uma esposa
“crente” que não aceita os seus outros filhos, o discurso de que meu filho tem
que aprender a lidar com a rejeição sozinho só demonstra sua condição
deplorável. Pobre de amor. Covarde de espírito. Um homem digno de pena.
Eu tomei a atitude mais drástica e extrema da minha
vida, mas foi por amor. Foi assim porque entendo que ele precisa realmente
compreender que a vida é feita de escolhas. O que posso esperar disso tudo?
Primeiro, eu espero em Deus. Depois, espero que ele volte, que entenda que
precisa de ajuda. Espero que entenda que se errei, errei tentando acertar e
que continuarei tentando fazer o melhor.
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